Inteligência artificial a serviço da odontologia

Renomados especialistas nacionais e internacionais debateram sobre inovação e o uso de novas tecnologias em procedimentos odontológicos

Com o talk-show “Tecnologias para o Futuro da Odontologia – Navegação assistida, manufatura aditiva e análise inteligente de imagens”, a ABIMO (Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios) inaugurou na tarde da quarta-feira, 22, o Painel Odontologia, uma das atividades previstas para o 7º CIMES (Congresso de Inovação em Materiais e Equipamentos para a Saúde).

O painel, que teve como moderador o consultor de odontologia da ABIMO, Claudio Pinheiro Fernandes, PhD, professor e coordenador da Agência de Inovação do ISNF da Universidade Federal Fluminense, contou com os seguintes convidados: Asbjorn Jokstad, PhD, professor do Departamento de Odontologia Clínica da Faculdade de Odontologia da Artic University of Norway, Tronso; Max Gordon, Phd, cirurgião ortopédico do Hospital Danderyd, pesquisador do Karolinska Institutet, Suécia, fundador e CEO da Deep-Med; e Elisabeth Dianne Rekow, PhD, Conselho Científico do IADR, ex-reitora do Instituto Politécnico da New York University, ex-diretora do Instituto de Odontologia do Kings College London.

Panorama

Para entender a importância da inovação nesse setor é preciso, primeiramente, entender o panorama geral da saúde bucal no Brasil e assim descobrir que o avanço tecnológico pode ser altamente benéfico para os dentistas que estão em busca de maneiras eficazes de realizar tratamentos dentro de suas clínicas ou consultórios.

Segundo dados apresentados pelo Ministério da Saúde, em seu último Levantamento Epidemiológico em Saúde Bucal, mais de 45% das pessoas entre 65 e 74 anos se enquadram no alto índice de COPD (Dentes Perdidos, Cariados e Obturados). Entre as crianças e os jovens, o maior índice diz respeito às cáries, mais de 23% da população até 19 anos. Não à toa, os profissionais da área da saúde bucal precisam estar constantemente atentos as evoluções tecnológicas que auxiliem no tratamento eficaz.

Sobre isso, Fernandes destaca que “as tecnologias do futuro já se encontram em um estágio favorável para desdobramentos em diversas áreas da odontologia. São como grandes avenidas de PD&I para que as empresas brasileiras estejam inseridas no contexto de inovação, buscando sucesso tanto no mercado nacional quanto no internacional”.
Sobre o atual posicionamento do Brasil mediante o cenário internacional da odontologia, Jokstad tem uma visão bastante motivadora: “os desafios de saúde bucal não são diferentes no Brasil no comparativo com outros países”, comenta. O especialista afirma, ainda, que a indústria nacional deve determinar as necessidades e as demandas primárias da comunidade odontológica desenvolvendo soluções inovadoras. “A indústria brasileira deve estar bem posicionada para um mercado global, pois o país conta com uma gama de profissionais altamente capacitados, tanto na esfera acadêmica quanto na clínica”, completa.

Navegação assistida

Durante 90 minutos, os especialistas convidados pela ABIMO para participares do 7º CIMES puderam discorrer a cerca do desenvolvimento e da aplicação de tecnologias inovadoras, como o CAD/CAM (sigla em inglês que representa desenho assistido por computador/manufatura assistida por computador), utilizado em diversos mercados para realizar o desenho e a manufatura de moldes de fundição, lâminas estampadas, ferramentas, desenho de calçados, distribuição de plantas e desenhos e, no setor odontológico, na fabricação de próteses dentárias.

De uma forma resumida, para os dentistas, o CAD/CAM representa a capacidade de realizar o desenho de uma prótese no computador, ao mesmo tempo em que seu aparelho consegue enviar o comando para uma máquina que realizará a manufatura daquele desenho, transformando-o em uma prótese pronta para ser instalada na boca do paciente, em apenas alguns minutos. Dentre as principais vantagens estão a criação e o aumento da conveniência e da simplicidade dos processos de design; a redução do custo unitário e a realização de restaurações e aparelhos a preços acessíveis.

Dianne, que já presidiu a IADR (International Association of Dental Research) e desde 2000 é consultora da American Dental Association, explica que o CAD/CAM permite que o paciente se torne muito mais participativo. “Ao criar restaurações temporárias, permite que o paciente avalie o projeto de restauração em sua própria boca, o que o aproxima do projeto melhorando, inclusive, sua satisfação final”, diz. Entretanto, a especialista frisa que as aplicações desta tecnologia vão muito além das usuais. “É hora de repensarmos o que a odontologia digital é – e pode ser – e como devemos chamá-la. No caso específico da CAD/CAM, é possível alcançar muitas outras aplicações, trazendo vantagens ainda maiores para toda a cadeia por meio da ampliação do compartilhamento de dados. Entre essas vantagens podemos citar um controle mais preciso de estoques, por exemplo.”
Uma das maiores lideranças mundiais em odontologia baseada em evidências, Jokstad está envolvido com pesquisa e desenvolvimento de um sistema de navegação assistida por computador optoeletrônico para cirurgias de implante dentário. Durante o painel, o especialista falou sobre essa outra vertente da inovação odontológica. Trata-se de um sistema de navegação que permite a instalação, em tempo real, de implantes sem incisões.

A navegação cirúrgica reúne inúmeros benefícios tanto para os profissionais quanto para os pacientes. “A grande vantagem é orientar o cirurgião que, se precisar de mudanças, pode replanejar a posição do implante usando realidade aumentada. A navegação dinâmica traz essa vantagem sobre abordagens alternativas, pois um novo plano virtual tridimensional pode ser feito rapidamente”, pontua.

Inteligência artificial / Deep Learning

Tecnicamente falando, o Deep Learning (aprendizagem profunda, em português) – tema emergente dentro do campo da inteligência artificial, faz o “treinamento” de um modelo computacional para que ele possa decifrar a linguagem natural. O modelo relaciona termos e palavras para inferir significado uma vez que é alimentado com grandes quantidades de dados.

Especialista nesse tema, Gordon, que é o fundador da Deep-Med, organização especializada no desenvolvimento de aprendizado profundo para uso na interpretação de raios X, trouxe ao debate uma visão sobre a análise inteligente de imagens. “A área onde a inteligência artificial será mais aplicável aos cuidados com a saúde é a que conta com grande quantidade de dados padronizados. Note que só teremos padrões relevantes em texto se o paciente relatar e o médico registrar adequadamente as informações. Já em imagens médicas e outras fontes de dados temos mais chances de obter benefícios por meio da inteligência artificial”, afirma.

O especialista explica, ainda, que ao pensar a aplicabilidade da inteligência artificial para a indústria odontológica, em uma perspectiva mais longa, a principal oportunidade está na orientação de decisões de tratamentos. “Padrões de fusão de imagens dentárias com outros dados como, por exemplo, comportamento e histórico do paciente, devem abrir um novo campo de trabalho. Já vimos que a inteligência artificial tem potencial para nos despertar interesses em diversas áreas”, aponta Gordon.

Manufatura aditiva

Um dos pilares tecnológicos para o novo cenário de desenvolvimento e produção de produtos é a manufatura aditiva, que possibilita a produção de peças por meio de uma impressora 3D. Mais que uma tendência, este tipo de manufatura já é uma realidade e um caminho sem volta para que se consiga atingir os resultados de melhoria de produto, na obtenção de estruturas mais leves, eficientes e inovadoras.

“No nosso setor, assim como em outras áreas da saúde, há uma grande necessidade de padronização de materiais, principalmente no que diz respeito a produtos direcionados a testes de análises clínicas. Isso é possível por meio da manufatura aditiva, inclusive a integração de materiais diversos. Esse é um tema muito importante e que deve estar inserido profundamente na odontologia digital”, finaliza Dianne.