Com auditório lotado, presidente da ABIMO abre a sétima edição do CIMES

Inovação é chave para um amanhã melhor nas organizações e na sociedade, destacou Franco Pallamolla em seu discurso

Com o tema “Inteligência Artificial na indústria da saúde: risco ou oportunidade?”, teve início na quarta-feira, 22, no Hotel Maksoud Plaza, em São Paulo, a sétima edição do CIMES (Congresso de Inovação em Materiais Equipamentos para Saúde), evento promovido pela ABIMO (Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios). Durante dois dias, especialistas da área de saúde debateram sobre a importância da inovação em dispositivos médicos e odontológicos na era da inteligência artificial.

Franco Pallamolla, presidente da ABIMO, relembrou em seu discurso os importantes avanços alcançados pelo CIMES desde sua primeira edição, em 2012. “Naquele momento, tínhamos um entendimento: que a inovação era fundamental para o setor e que havia temas de uma agenda estruturante que precisavam ser enfrentados. Olhando para o retrovisor, percebemos avanços em diversos temas, como nas relações empresas/universidades e em marcos regulatórios. Outro ponto foram as conquistas na área de financiamento. Prova disso é o convênio firmado aqui hoje com a Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), uma das grandes fontes financiadoras de inovação no País”, disse.

Para José Gordon, diretor de Gestão e Planejamento da Embrapii, a aliança com a ABIMO representa um salto importante para o trabalho realizado pela instituição. “Por meio dessa aliança esperamos estreitar ainda mais a relação de nossas unidades – hoje são 42 centros de pesquisas credenciados – com as demandas tecnológicas do setor empresarial, colaborando para o desenvolvimento socioeconômico do País”, destacou.

Do ponto de vista estratégico, Pallamolla acrescentou que a missão associativa da ABIMO vai além de estimular a inovação. “Precisamos direcionar o esforço inovador do nosso setor, sobretudo para os pequenos empresários. Independentemente do cenário de incertezas que o Brasil atravessa.” Já Ruy Baumer, presidente do SINAEMO (Sindicato da Indústria de Artigos e Equipamentos Odontológicos, Médicos e Hospitalares do Estado de São Paulo), acredita que poucos eventos hoje conseguem perenidade. “O CIMES é um deles, que vem crescendo, se renovando e dando bons frutos ano a ano. Como evento direcionado à inovação, está fazendo sua parte, trazendo temas sempre atuais para discussão e apresentação ao setor. Nesta edição, por exemplo, debatemos a inteligência artificial, um assunto de extrema relevância para a área da saúde. Num mundo em que está faltando inteligência natural, este pode ser um caminho”, provocou.

Coordenador do Laboratório de Inovação de Tecnologias da Saúde (LAIS) – um dos patrocinadores do evento –, Ricardo Valentim aproveitou o momento para destacar o trabalho realizado pela instituição no Nordeste do País. “Somos um laboratório protagonista dentro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, cuja missão é pautar a ciência aplicada ao desenvolvimento socioeconômico, observando a questão da saúde como um dos motores que podem tirar o Brasil da vala em termos de conhecimento de ciência e tecnologia aplicadas à saúde. Hoje, discutimos tecnologia muito além das fronteiras do nosso Estado, visando principalmente melhorar a qualidade do atendimento ao paciente, tornando-a mais efetiva e humanizada”, destacou.

Participação ativa do setor público

Presentes à cerimônia, os representantes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), João Paulo Pieroni, da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEXBrasil), André Limp, e da Secretaria de Política de Informática (MCTIC), José Gustavo Sampaio Gontijo, falaram das diversas parcerias da esfera pública com a ABIMO, a fim de trazer incentivos e recursos financeiros ao setor da saúde no Brasil. “O BNDES sempre esteve presente em todas as edições do CIMES, pelo prazer dessa parceria e pela importância que o setor de equipamentos médicos e odontológicos tem para o banco. Nos últimos anos, temos apoiado de forma bastante efetiva as empresas associadas à ABIMO. O que possibilitou melhorias em suas capacidades produtivas”, relatou Pieroni, acrescentando que ainda há muito o que avançar para vencer a dificuldade de acesso ao crédito, principalmente às pequenas e microempresas. “Estamos próximos de concluir um produto em parceria com a Embrapii, que está sendo chamado de BNDES 10, que visa simplificar o fluxo de acesso às linhas do banco, de forma direta e sem a intermediação de um agente financeiro. Outra iniciativa em andamento é uma chamada para recebimento de projetos de IoT (internet das coisas) aplicados à saúde, para a qual estamos pondo à disposição um volume considerável de recursos. As propostas têm que ser feitas por instituições sem fins lucrativos, porém em associação com empresas do setor.”

Limp, da ApexBrasil, ressaltou que é preciso quebrar o paradigma da inovação típica. “Vamos tentar pensar a inovação, durante esses dois dias, sob dois outros aspectos: mercados internacionais ainda pouco explorados, como Nigéria, Vietnã, entre outros, que podem se traduzir em boas experiências; e sob a ótica da transversalidade, buscando exemplos de soluções e modelos inovadores de outros setores da economia que podem ser aplicados com sucesso na área da saúde.”

Já Gontijo, do MCTIC, falou sobre o trabalho que vem sendo realizado desde 2013 para identificar tecnologias digitais capazes de mudar o setor. “Fizemos um estudo longo junto ao BNDES – com participação também da Embrapii e da ABIMO – e definimos quatro ambientes prioritários para o Governo Federal apoiar de forma organizada, sendo o setor de saúde um deles. Levamos em consideração não só o tamanho desse mercado e a capacidade das suas indústrias, mas também a forma como impacta a sociedade. Nesse sentido, há um decreto estabelecendo a priorização da IoT, que já passou por todas as instâncias e agora aguarda a assinatura do presidente da república. Além disso, paralelamente, temos várias ações de fomento para esse ecossistema, entre elas as chamadas do BNDES, um programa prioritário de internet das coisas, no qual a Embrapii é uma das coordenadoras, além de linhas de financiamento do Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), da ordem de R$1,5 milhão, para que as empresas tenham recursos para investir em tecnologia”, destacou.

Diretor geral da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), Ricardo Rodrigues Fragoso enfatizou o desafio de adaptar a inteligência artificial à normalização. “Talvez esse seja o grande desafio imposto a nós, normalizadores, de trazer essa proposta para as nossas comissões. É meu sétimo CIMES e, tenho certeza, iremos trazer propostas muito interessantes a todos”, comemorou.

Para a diretora de Autorização e Registro Sanitários da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Alessandra Bastos Soares, um evento do porte do CIMES é fundamental para que a agenda de saúde avance no Brasil. Entre os assuntos abordados, a diretora salientou a relação delicada com o setor. “A Anvisa é um lugar onde as pessoas buscam soluções, mas nem sempre encontram. Sabemos desses entraves e temos trabalhado arduamente para quebrar paradigmas. Contudo, vale destacar que toda vez que falamos em oportunidades, prevemos riscos. E o nosso papel, enquanto agência reguladora, é mitigar esses riscos; não só para o paciente, mas também para o profissional da saúde. Em janeiro próximo completaremos 20 anos de atuação. Não queremos mais trabalhar ‘para’ o setor regulado, e sim ‘com’ o setor regulado, o setor produtivo. Por isso, nossa preocupação hoje com os gestores da casa é incentivar esse novo entendimento.” A diretora acrescentou ainda que a agência tem trabalhado para acompanhar as inovações do mercado. “Não queremos mais ser vistos como um fator limitador do avanço. Estamos muito empenhados em fazer funcionar melhor nossa agência. Mas só alcançaremos esse novo status se trabalharmos juntos, de forma integrada, com novos pensamentos e construindo uma realidade mais factível, com normas mais bem estruturadas.”

Mauro Guimarães Junqueira, presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), lembrou a provocação feita há três anos, durante o 4º CIMES: “Naquela época, disse claramente que mais de 80% dos municípios brasileiros com menos 20 mil habitantes não sabiam comprar. Essa provocação gerou, em parceria com a ABIMO, a criação de uma ferramenta – que será implementada nos próximos meses em dez municípios, a título de teste – para ofertar a gestores públicos e privados do setor de saúde uma plataforma virtual para aquisição de equipamentos e materiais. Para o próximo ano, esperamos já ter essa ferramenta disponível para todos os municípios do País”, frisou.
Fechando o evento de abertura, o secretário executivo adjunto do Ministério da Saúde, Jocelino Francisco de Menezes, ressaltou a importância da inovação como um instrumento de mudança para País. “Não é uma tarefa fácil provocar essa mudança num ambiente com tanta desigualdade. Na gestão pública, nossa incumbência é cuidar das necessidades, acima de tudo, da sociedade para qual servimos. E nesse momento de incertezas que vivemos, temos uma certeza: a de que queremos mudar. E essa mudança passa por associar a inteligência artificial, tão almejada, à inteligência humana”, sublinhou, convidando ainda todos a pensarem um novo modelo, mais inovador e integrador, para o Serviço Único de Saúde (SUS).