Inteligência artificial é caminho sem volta para o setor de saúde

Tema foi esmiuçado por especialistas no primeiro talk show do 7º CIMES; participantes debateram a importância dos dados e a carência de profissionais especializados

O primeiro talk show da edição 2018 do CIMES trouxe um vasto debate sobre o tema principal do congresso: inteligência artificial. Na discussão, que contou com profissionais especialistas tanto da indústria quanto da academia, foram enfatizadas a importância dos dados para a geração de soluções e plataformas capazes de revolucionar o cenário, a carência de profissionais especializados e as tendências que aos poucos são desenhadas para o futuro.

Em uma apresentação inicial criada para preparar o público sobre o tema desta edição do congresso, Esteban Clua, diretor do Instituto de Computação da Universidade Federal Fluminense, explicou que existem basicamente três pontos principais que possibilitaram esse momento de evolução tecnológica que vivenciamos. “Volume de dados, supercomputação acessível e novos modelos de aprendizagem de máquina. Esses três ingredientes, somados, tornaram possível o deep learning”.

Ampliar a competitividade da indústria foi uma afirmação geral durante o evento. Carlos Gadelha, professor da FioCruz, traçou um breve comparativo entre o cenário brasileiro e de outros países desenvolvidos. “Não teremos musculatura para avançar se a nossa indústria continuar derretendo. Por que tantas inovações nascem na Alemanha? Justamente pois lá há uma indústria potente”, declarou complementando que o Brasil precisa tomar cuidado para não se tornar apenas importador e consumidor de tecnologia.

Também apontando outros panoramas mundiais, Rodrigo Streithorst, CEO da Streithorst Soluções Tecnológicas, trouxe ao público presente no CIMES um pouco de sua experiência recente na China. “Uma cidade chinesa está investindo no Big Data Valey, um espaço onde estarão reunidos milhares de especialistas em big data na criação de um super data center que construirá o futuro”, disse.

Para João Paulo Navarro, arquiteto de soluções da NVidia, é preciso observar que outros governos usam os dados e a inteligência artificial de maneira muito mais estratégica. “Aqui, precisamos ter um direcionamento bem mais sólido sobre as inserções da inteligência artificial”, declarou.

Profissionalização e mercado de trabalho – Questões referentes ao mercado de trabalho e à necessidade de especialização em um cenário onde a inteligência artificial se destaca foram amplamente debatidas durante o talk show.

A dificuldade em encontrar, no Brasil, profissionais realmente qualificados foi apontada por Streithorst. “Hoje existe uma escassez de profissionais com qualificação aliada à experiência. Os que existem estão bem alocados e não têm interesse em migrar para outras atuações”, apontou. Concordando com esse ponto, André Máximo, pesquisador do Centro Global de Pesquisa da GE Healthcare, comentou: “a contratação é complicada e precisamos saber que as coisas mudam tão rapidamente que passa a ser difícil encontrar esses profissionais”.

Em contrapartida, Clua lembrou que ao mesmo tempo em que há carência de profissionais especialistas, há muitos jovens que estão se especializando e acabam por trabalhar em outras atividades por conta do distanciamento que, de certa forma, ainda existe entre a academia e a indústria: “Temos excelentes profissionais se formando que tendem a atuar em outro contexto”.

Louro enfatizou que “a inteligência artificial pressupõe a inteligência humana”, visto que são necessários profissionais dedicados para criar algoritmos capazes de trabalhar todos os dados que o setor de saúde gera diariamente no sistema. Mas não foi descartada a real possibilidade de que, em alguns momentos, trabalhadores terão de se adaptar à nova realidade para permanecer ativamente no mercado.

Da plateia, Ricardo Valentim, coordenador do LAIS (Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde), trouxe um apontamento motivador ao falar que é possível produzir ciência sem olhar exclusivamente para a tecnologia. “A ciência humanitária alia tecnologia, sociedade e desenvolvimento econômico, auxiliando a mudança do perfil do capitalismo atual para um capitalismo mais organizado, ético e justo, onde a riqueza é compartilhada”, comenta ao destacar que a ideia é produzir inteligência artificial justamente para gerar bem-estar social à humanidade e que essa forma diferente de pensar a tecnologia pode ser uma vantagem competitiva para o Brasil.

Inteligência artificial pode elevar o PIB mundial – Participando do talk show, Tomas Roque, sócio da PwC para a área de consultoria em tecnologia, comentou que o PIB global poderia ser até 14% maior em 2030 como resultado de investimentos em inteligência artificial. O dado, proveniente de uma pesquisa realizada pela consultoria e nomeada “Sizing the Prize – What’s the real value of AI for your business and how you can capitalise”, motiva o segmento.

“Hoje, executivos já entenderam a necessidade e têm criado times para pesquisas como a inteligência artificial pode auxiliar. Assim, vemos desde o uso superficial da tecnologia até mesmo processos muito vastos e complexos”, declarou.